Muitos dizem que, invariavelmente, alguma paixão deixamos em passado distante, que periodicament nos visita, mas somente nas esferas oníricas do pensamento noturno.
Nem 10 anos de idade eu tinha, mas o ano de 1973 fez meu coração pulsar em ritmo que jamais seria esquecido. A cada chegada de minha professora favorita um profundo suspiro me levava aos céus. Na sala de aula, disfarçando com as habilidades próprias de uma criança, ficava encantado a cada vez que a "tia" escrevia no quadro negro. Até o contorno de suas letras era alvo de minha admiração. Quando olhava para mim, chegava a tremer por dentro, não de medo, mas sim por ser notado, por ter recebido atenção especial. Nas vezes em que chegava bem perto, podia sentir o perfume que se desprendia de sua pele e me aromatizava de sensações. Na hora da saída, que acontecia sempre pelo portal lateral da rua Joaquim Méier, tratava de correr logo para casa, a fim de me pendurar na janela e ficar esperando a minha "paixão" chegar ao ponto de ônibus, e assim poder acenar para ela, recebendo um adeus com a mão em movimentos pendulares. Quando embarcava no coletivo a tristeza se apossava de mim. Ficava alguns minutos em silêncio, até que lembrava que era início de semana e que mais adeus aconteceriam, que o coração entraria mais e mais vezes em descompasso. Por onde estará aquela que sem o saber, e sem o querer, conquistou o coração de um menino tímido, mas apaixonado? Por onde andar a professora dos cabelos dourados? Por onde estára a Tia Yolanda?