Voltando à infância
Entrevista a Ronaldo de Oliveira Costa
Realizada por Marcos Flávio, via eletrônica de Santos / SP a Rio de Janeiro / RJ
12-11-2015 19:32
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Ronaldo! Seja bem-vindo aqui no Portal Isabel Mendes!
Agradeço a acolhida.
Primeiramente quero te agradecer por aceitar conceder este momento do seu tempo pra passar um pouco de suas lembranças da época do Colégio e experiência de vida. Se tivesse que dar um título para esta entrevista como a chamaria?
Voltando à infância.
Ronaldo você é carioca "da gema"? Na época do Colégio você morava no Méier? Sempre morou ali?
Sou carioca da gema, com 68 anos de Méier, divididos em 33 anos de moradia e trabalhando até os dias atuais. Nasci na Casa de Saúde São Paulo, que existiu na Rua Venceslau. Minha famÃlia nessa época morava na rua Arquias Cordeiro, próximo a estação de Todos os Santos. Dos 3 aos 7 anos morei na Rua Dona Claudina. Após (final de 1954) fomos morar na Rua LucÃdio Lago, de onde sai ao me casar em 1973. Casado morei até o inÃcio de 1980 na Rua Venceslau, saindo então para o bairro do Grajaú, onde ainda resido.
Qual é a sua profissão? Você estudou depois em quais Instituições? Onde se formou?
Sou contador, ramo em que trabalho desde 1967. Após concluir o primário na Escola Isabel Mendes, fui estudar no Colégio Salesiano, no bairro do Jacaré, por dois anos (1959 e 1960), Colégio Dois de Dezembro, no bairro do Méier (1961 a 1964), Instituto São João Batista – Curso Técnico em Contabilidade (1965 a 1967). Cursei posteriormente a Faculdade de Ciências Contábeis e Administrativas Moraes Júnior (1970 a 1973) onde me formei em Bacharel em Ciências Contábeis.
Conte um pouco pra gente da sua infância e adolescência.
Foi uma infância alegre e de muitas brincadeiras de rua e uma adolescência tranquila. Muito embora tenha sido vivida dentro de um perÃodo de repressão, não tive problemas. A única lembrança triste dessa época é a da perda prematura de meu pai, em 1965, por motivo de doença. Lembro dos bondes, lotações, carros de lixo e carrocinhas do leite puxadas à cavalo, lembro dos policiais do 3º Batalhão da Policia Militar fazendo rondas montados em cavalos. Lembro ainda da inauguração do Cinema Imperator em 1954, na rua Dias da Cruz, do Teatrinho de Marionetes no Jardim do Méier (na parte alta, perto de onde tem uma entrada para o ambulatório do Hospital Salgado Filho), das magnÃficas residências da Rua Dias da Cruz. E muito mais.......
Pelo que entendi você estudou no prédio antigo da Escola Isabel Mendes, na época se chamava Enes de Souza? Onde ficava o prédio? Em qual rua? Pegou a transição de um nome pra outro ou sempre estudou na Enes? Foi só no prédio antigo ou estudou no atual também?
Não, quando fui estudar na Escola Isabel Mendes, em março de 1954, a Escola já tinha o nome atual. O prédio já era localizado no mesmo local, só que inicialmente (de 1954 até 1956) era um prédio muito antigo ( a Fernanda V de Castro postou uma foto em 21/09/2015 que muito embora esteja mencionando que era prédio na rua Lopes da Cruz, é o mesmo prédio onde estudei ) com salas de aula na parte de cima, e na parte de baixo, que era tipo um porão, existiam o refeitório e os sanitários. O prédio não era no alinhamento que hoje a Escola está construÃda, era mais recuado, tanto que na foto que postei do ano de 1956, o espaço ocupado pelos alunos era em um pátio existente na frente do prédio onde todos os dias, na entrada de cada turno, os alunos eram perfilados e era cantado o Hino Nacional. Lembro ainda de uma mangueira enorme que ficava no mesmo pátio, cheia de ervas de passarinho, que me amedrontava nos dias de aulas em que caiam tempestades, pois parecia que ela ia cair sobre o prédio devido aos ventos. Em 1957 quando retornamos à s aulas haviam sido construÃdas no lado esquerdo do terreno ocupado pela Escola, umas salas novas, com apenas 1 pavimento ( não lembro quantas salas, talvez 4 ), aonde cursei a 4ª e 5ª séries. Nessa ocasião a prédio antigo ainda era ocupado. A demolição do imóvel antigo para construção do atual foi com certeza posterior a 1958, não sei informar qual o ano pois já não estudava mais lá.
Você foi aluno da Dona Isabel Mendes? Você lembra o ano? O que ela ensinava? Como ela era em todos os aspectos que possa lembrar?
Não tive esse prazer, porém acredito que minha melhor e inesquecÃvel professora, Dª Francisca de Assis Vieira Campos (1ª e 3ª séries ), nada fica a dever a fama de excelente educadora que tem Dª Izabel Mendes. Havia semelhança, Dª Francisca também era mulata, com uma caligrafia perfeita, sabia transmitir como ninguém o ensino, conduta e respeito para os seus alunos. Dª Isabel Mendes deve ter se aposentado na década de 1940, eu só fui estudar em 1954, nessa época o nome da Escola já era em sua homenagem.
Estas fotos maravilhosas que você postou na internet tem uma que é da primeira comunhão é isso? Conte-nos um pouco da foto, o que lembra? O que aconteceu antes e depois de tomá-la?
Sim, é a foto da primeira comunhão, com os alunos de nossa turma, a 3ª série primária. Na época a escola era uma escola primária indo da 1ª a 5ª série. Com um só professor por turma, sendo normal um professor acompanhar a turma não sendo possÃvel para Dª Francisca ser nossa mestra em 1955 devido a sua licença para maternidade pelo nascimento de sua primeira filha. Lembro que fomos preparados para a Comunhão pela tia de um colega, pois a mesma fazia a catequese na Igreja Cristo Rei (atual Igreja do Sagrado Coração, que fica na rua Carolina Santos esquina com rua Carijós ). O nome dele se não me falha a memória era Antonio Plauto. Meu irmão que nessa época cursava a 1ª série também fez a comunhão nesse dia. Era primeira comunhão para todos os alunos da Escola. Fiquei muito feliz de ter recebido a Eucaristia.
Você lembra dos nomes de algumas pessoas que estão nesta foto?
Lembro o nome de poucos alunos. Para orientação as posições que menciono levam em consideração a direita e esquerda do observador. Sendo assim, as duas meninas à frente, vestidas de anjos, são a da esquerda Miriam e a da direita Marli, irmãs e filhas do famoso cavaquinista Waldir Azevedo, autor do conhecido choro “ Brasileirinhoâ€. Eu sou o menino logo a direita e encostado à Dª Isabel Mendes, a direita e próxima a mim a MarÃlia. O segundo garoto à esquerda após Dª Isabel é o Dorgisval. O último garoto à esquerda perto do anjo é o José Carlos, que morava na rua Dona Claudina.
E sua família? Como se chama sua esposa, filhos(as)? Como você os tem no seu coração?
Minha famÃlia é composta de mulher, filhas, genros e netos. Minha mulher se chama Dora e as filhas Renata e Luciana. Ocupam todo o espaço disponÃvel em meu coração. São as presenças mais importantes não só no coração como em minha vida.
Agora... indo um pouco pra época do Colégio... Você lembra de que época a que época estou no Colégio?
Sim, como já mencionei foi de março de 1954 até dezembro de 1958.
Teve outros parentes que estudaram seja no primeiro ou no atual prédio?
Sim, meu irmão estudou de 1956 até 1958 também, fez até a 3ª série, no mesmo prédio que mencionei acima.
Quais eram suas características físicas e pessoais na época do Colégio? Segundo você, o que mais te marcava?
Diferente dos dias atuais, era bem magro, mais calmo e mais tÃmido. Acredito não ter nada que pudesse me marcar de forma chamativa. Poderia ser considerado um aluno de comportamento exemplar.
E seus amigos? Lembra dos nomes do seu grupo? Quem foram teus mais cercanos amigos no colégio?
Amigos não tinha pois os contatos eram só na escola, porém os colegas mais chegados e que sempre estávamos juntos no colégio eram o Antonio Plauto que morava na Carolina Santos, o Clodoaldo que era excelente desenhista desde os sete anos, cujo pai tinha uma farmácia na rua Dias da Cruz, quase esquina de Magalhães Couto (Farmácia Pederneiras), o Ricardo cujo pai trabalhava, se não me engano, na Rádio Continental no setor de esportes e o Dorgisval. Talvez o relacionamento não fosse de amizade, pois quando entrei para a Isabel Mendes, em 1954, minha famÃlia morava na rua Dona Claudina, porém logo no segundo semestre desse ano mudamos para rua Lucidio Lago, do outro lado da estação o que dificultava nosso contato fora da escola.
A Educação Física na época do prédio antigo era feito onde? e no atual prédio?
Para o primário da época não havia Educação FÃsica.
E professores? Quais lembra?
Lembro de algumas da Escola como um todo, na época eram apenas professoras, moças normalmente oriundas do Instituto de Educação e outras escolas Normais públicas. Dona Cezira Lodi (diretora), Maria José Calominos, que foi professora de meu irmão, Célia Vidal que era irmã da professora Arlete Vidal, Dona Edna. Sendo minhas professoras as seguintes:
1ª e 3ª séries Francisca de Assis Vieira Campos “a melhor†(anos de 1954 e 1956)
2ª série Arlete Vidal (1955)
4ª e 5ª séries Nise Soares Matoso ( também excelente – anos de 1957 e 1958 )
Qual o(a) Professor(a) que mais lhe marcou? Por que?
Dª Francisca de Assis Vieira Campos (aniversário em 4 de outubro, lembro até hoje ), era enérgica e justa, dosava cobrança e prêmio na medida certa, aprendi a ler e escrever num piscar de olhos. Tratava os alunos como se fossem seus familiares. DifÃcil existir outra igual.
Me imagino que você deve ter recebido a notícia do falecimento da Prof. Isabel Mendes. Você lembra de algo?
O único contato que tive, e acredito que nossos colegas também, com Dª Isabel Mendes, foi por ocasião da festividade ocorrida na primeira comunhão de 1956, onde houve homenagem à mesma. Pela foto da para notar que ela já deveria ter na época mais de 90 anos. Não tive notÃcia do ocorrido pois em 1958 já havia saÃdo da escola, e acredito que ela ainda não havia falecido.
Você gostou de alguma menina no colégio? Chegou a namorar alguma?
Sim, olhando a foto não a localizo, nem lembro se ela participou da comunhão, seu nome era Leila. Porém a época era outra, e eu estudei dos 7 aos 11 anos. Namorar ainda não era para aquela idade.
O que lembra imediatamente quando aparece o nome "Isabel Mendes"?
Me lembro eu aprendendo a ler.
Você teve amigos no Colégio que se encontravam ou que se encontra até hoje?
Não os tive como expliquei acima.
Como você se sentiu depois que a internet proporcionou a possibilidade de re-encontrar os amigos e amigas?
A internet proporciona, quando bem utilizada, possibilidades de viajar no tempo em segundos e esclarecer as dúvidas que em outras épocas levariam dias ou uma eternidade para tal.
Qual o fato que mais lhe marcou na sua época de Colégio?
Não tive nenhum fato marcante, apenas que hoje reconheço a forte base que a educação primária fornecia na época, com poucos recursos (não havia multimÃdia, tablets, etc...), e com a grande capacidade didática dos autênticos mestres. Ninguém seguia adiante por decreto. Havia respeito aos professores.
Quais as notícias que mais te impactaram?
No Mundo: O atentado às Torres Gêmeas em Nova Iorque em 2001:
No Brasil: A atual avalanche de denúncias e constatações de corrupção generalizada;
No RJ: Que me lembre somente as enchentes mais graves, com deslizamentos e caos total;
No Méier: De mais importante e que causa pesar é o desaparecimento das magnÃficas residências que haviam na Rua Dias da Cruz, a partir do final dos anos 1950, boa parte delas modernas, na época com no máximo 15 anos de construção, o que proporcionava maior arejamento do bairro e vistas para as serras do entorno. Naquela época esse “lado†do Méier era predominantemente residencial, o que veio a mudar com a demolição do prédio antigo do Colégio Metropolitano que ficava na esquina da Dias da Cruz com Lopes da Cruz, para a construção do Shopping hoje existente.
Ronaldo tem algum segredo que aconteceu no Colégio que hoje, depois de tanto tempo, você possa contar para gente?
Não, nenhum segredo.
Você frequentava o Refeitório? Sobre a arte culinária do refeitório qual é o prato que você mais lembra e gostava?
Na época em que cursei a Isabel Mendes não era o “boa boca†que passei a ser na juventude, os pratos servidos não me agradavam, apenas quando tinha falta d’água (o que era comum naquela época) eu comia a goiabada com queijo que então era o que serviam para os alunos.
O que você opina da Educação Escolar Pública da sua época?
Conforme já me manifestei acima, um ensino muito melhor do que o atual. Tanto em razão da capacidade do corpo docente (que em sua maioria já foram formados pelo atual sistema), bem como as regras para o corpo discente que conta com uma permissividade sem limites. Outro fator importante era que não se tinham tantas greves por parte dos professores, que apenas faltavam por motivo de doença ou força maior. Tantas paralisações e falta de continuidade nas aulas desmotivam os alunos.
Ficando um pouco mais profundo..., como você definiria o Ronaldo de 40 anos atrás e o que mudou hoje?
Mais experiente, aprendendo com os erros e corrigindo a rota, dando certo em tudo que imaginava constituir. Feliz com a famÃlia que tenho.
Houve um aprendizado específico ou conselho você passou aos seus filhos que aprendeu no Colégio?
Não teve aprendizado, a não ser o técnico, que a Escola tenha me passado. O aprendizado que tive veio de dentro de casa onde fui orientado como me comportar como cidadão. Não fugir das minhas responsabilidades, procurando cumprir com o prometido, ter caráter. Isso foi o que também passei às minhas filhas.
Você sente saudades do Colégio? Da época? Das pessoas? Por quê?
Na realidade não sinto saudades, porém sempre procuro me recordar dessa época, gosto de relembrar. São boas as lembranças.
Seus pais, que representaram na sua formação pessoal? O que lembra carinhosamente deles?
Tanto pais como avós representaram tudo em minha formação pessoal. Lembro-me dos passeios e das histórias de famÃlia contadas por meus avós maternos.
Ronaldo e Felicidade/Realização Pessoal. Qual a experiência e conselho que você dá sobre este tema?
Que as pessoas devem fazer o que realmente gostam, dessa forma têm muita chance de darem certo em tudo que sonham realizar. Serão bons no que fizerem.
São tantas coisas a perguntar mas não posso abusar, rs. Antes da gente terminar vamos fazer um "Bate-Bola Isabel Mendes" rápido?
Respondo abaixo na série
O que mais gosta?
Atualmente de ficar junto a minha famÃlia.
O que não gosta?
De lugares barulhentos.
Sua maior alegria?
Tive grandes momentos de pura alegria, todos de mesma intensidade, meu casamento e nascimento de minhas filhas e netos foram os principais.
Maior saudade?
O que me causou maior saudade foi meu pai, morreu aos 49 anos e eu tinha 18 anos. Hoje já sinto saudades de mais pessoas.
Sua maior conquista?
A famÃlia que constituÃ.
Decepção?
Decepção apenas com os polÃticos. A forma com que fazem polÃtica.
Cor preferida?
O Azul.
Obra literária de cabeçeira?
Não tenho obra literária de cabeceira, minha leitura sempre foi direcionada para assuntos inerentes a atividade que desenvolvo.
Filme?
Apenas quando criança adorava os filmes do Tarzan, os que assisti e assisto posteriormente não destaco nenhum em especial. Mas gosto de todos do tipo policial investigatório, tipo Sherlock Holmes.
Artista/Grupo e Música?
MPB em geral, porém em especial Flávio Venturini e o Grupo 14 BIS. Músicas várias, mas de imediato veio a cabeça Amor de Ãndio de Beto Guedes.
Esporte preferido?
Esporte preferido,o futebol.
Instituição de Ensino e Professor(a) do coração?
Sem dúvida a Escola Isabel Mendes e a professora Dª Francisca de Assis Vieira Campos.
Religião/Deus na sua vida?
Sou católico por convicção, não praticante. DEUS é tudo em minha vida, a quem agradeço e peço por tudo.
Clima preferido?
Frio moderado.
Lugar preferido?
Lugar preferido, mesmo com todas as mazelas, é o Rio de Janeiro, minha cidade.
Lugar que você mais gostou de ter conhecido?
Lugar que mais gostei de ter conhecido foi Angra dos Reis com suas belas praias.
Lazer preferido?
Lazer “jogar conversa foraâ€, sou muito caseiro, traduzindo sedentário rsrs.
Prato preferido?
O cozido português.
Prato que você não curte?
Não curto pratos a base de lÃngua de boi.
Sua família em uma palavra?
Minha famÃlia em uma palavra, TUDO.
Que mensagem você deixaria para os seus amigos da época?
Os que se identificarem como sendo de alguma das turmas pelas quais passei, que se apresentem para que eu possa agradecê-los pelo perÃodo em que juntos convivemos na Isabel Mendes.
Que mensagem você deixaria para a sua família?
A minha famÃlia o meu agradecimento pelo apoio incondicional ao rumo que dei na formação da mesma.
Ronaldo, o que você gostaria de dizer a mais nesta entrevista que não lhe perguntamos? Vai, o espaço é seu, é uma honra pra gente.
Não me vem nenhum assunto que deixou de ser abordado para o objetivo à que a entrevista se propõe.
Ronaldo, agradeço de coração o que nos proporcionou. Gostei muito de poder compartilhar com todos um pouco mais sobre você. Valeu!
Eu é que fico agradecido a você Marcos pelo trabalho de resgate, que é muito importante, temos que lhe dar valor. Quanto vale um PaÃs sem memória ?
Abraços
Ronaldo Costa
Ficamos por aqui. Portal Isabel Mendes entrevistou Ronaldo Costa
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RONALDO COSTA
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